Comida É Afeto | Como como?
 

Como como?

Como como?

Comer, palavra de origem latina, comedere, teve sua formação e significado dado pelos romanos quando adicionaram o prefixo com, que significa juntos. Eles entendiam que o ato de comer era um ato para ser feito com outras pessoas,  alimentar-se juntos. E tinham razão pois, anterior ao significado no vocabulário, os costumes que envolvem o ato de comer são ancestrais, primordiais, essenciais ao ser humano.

A evolução da humanidade está intrinsecamente ligada à busca de alimentos para sustentar-se .

De coletores e caçadores totalmente dependentes do ambiente e de suas intempéries até chegar a sermos produtores de alimentos, tivemos que avançar muito, em passos lentos, ora em passos largos, para garantir a nossa sobrevivência. Esse homem pré-histórico, apesar de ter ritos sociais em torno do alimento, vivia em estado de inanição, ainda  muito longe de poder se deleitar com os prazeres de uma boa e abastada refeição, como fazemos nos dias de hoje.

Ao redor da comida há infinitas implicações históricas traduzindo rituais, hábitos sociais e manifestações culturais.  E, se há formas de distinguir a classe social de um indivíduo, uma delas está sobre à mesa. A maneira de se comportar no momento da refeição,  o tipo de alimento ingerido e, a forma como é servido dizem muito sobre os aspectos  culturais da pessoa e de sua realidade social. Foi a comensalidade que diferenciou o homem civilizado dos animais e dos bárbaros. Ao longo dos séculos, no processo civilizador, progressivamente foram eliminadas respostas instintivas como agarrar, arrotar, devorar, cuspir ou beber de modo barulhento. O como comer e comportar-se à mesa denotavam as boas maneiras que cada comunidade colocava para si, indicando assim, aspectos que faziam parte do conjunto de normas que formava o código moral daquele grupo. E seguimos dessa forma até a atualidade, fazendo do ato de comer uma maneira de distinção social.

‍SFYN Meeting 2013 – Italia

Como comemos e o que comemos são questões presentes na nossa vida diária. Dificilmente passamos um dia sequer sem pensarmos na nossa alimentação, na dos filhos, na dica de um novo restaurante, na receita de família, na dieta da moda, nos transgênicos, nos orgânicos, nas calorias, na saúde e no bem-estar. Entretanto, será que conseguimos pensar em acesso? Sim, acesso a alimentos. De tudo o que lemos, vimos e somos bombardeados com  publicidade, quem de fato tem acesso ao que está sendo exposto? Hoje, muito mais do que forma de distinção social, a alimentação também nos mostra a grande desigualdade social na qual vivemos. Estamos longe de termos um sistema alimentar justo, que valorize quem produz, que seja ecologicamente correto, que garanta a alimentação adequada a todos. Infelizmente, quanto mais valores são agregados ao alimento mais caro ele é. O acesso ao alimento de qualidade, capaz de garantir uma dieta saudável e  bom desenvolvimento da população, ainda é privilégio para poucos no nosso país.

Como comemos muda o mundo. E, afinal,  qual o mundo que queremos?

No próximo post vamos falar um pouco mais sobre como comemos e como agitamos as panelas por aí.

 

Até breve!

Carol Sá

@chefcarolsa

Sem comentários

Postar comentário