Deleites de criança

Há alguns meses decidi sair do país e viver fora. Sempre que alguém toma esta grande decisão é, sem dúvida, na esperança de dias melhores em um lugar que atenda às nossas necessidades de felicidade. Mas, na memória e no coração estarão guardadas todas as nossas boas referências do lugar de onde viemos, das pessoas que convivemos e das memórias afetivas que criamos ao longo de nossa vida. E, me lembrando de tudo isso daqui de longe, do outro lado do oceano, quis compartilhar com vocês a história e a tradição de uma receita de família. Esta é uma receita da minha avó:

A la Campagne Mineira

Ingredientes:

• 500 g de carne bovina – qualquer corte para carne de panela
• 500 g de carne suína – lombo ou pernil
• 3 dentes de alho
• 1 cebola grande
• 1 cenoura pequena
• 1 batata-inglesa grande
• 2 colheres de sopa de manteiga
• 2 colheres de sopa de farinha de trigo
• 1 colher de sopa de extrato de tomate
• 1 cheiro-verde
• sal e pimenta do reino a gosto
  
  

Modo de fazer:

• Corte as carnes e os legumes em cubos.
• Em uma panela grande, leve para cozinhar as carnes, o alho, a cenoura, a batata-inglesa e a cebola. Tampe e cozinhe até que as carnes deixem de”sangrar”. Deixe esfriar um pouco, escorra o caldo do cozimento em uma tigela, e reserve. Separe as carnes dos legumes.
• Moa as carnes em um moedor de carne manual, no aro mais fino, e reserve. Esprema todos os legumes no espremedor de batatas e reserve.
• Em uma panela, torre a farinha na manteiga até que fique marrom-claro. Adicione 2 conchas do líquido do cozimento das carnes e vá misturando até ficar liso. Em seguida, adicione as carnes e misture bem. Adicione os legumes espremidos e misture mais um pouco. Acrescente o extrato de tomate, o sal, a pimenta e o cheiro-verde, misturando tudo muito bem.

Está pronto para servir!

Somos de uma família mineira tradicional bem grande. Daquelas de vida de roça e fazenda, que tira quase todo seu alimento da terra. Antigamente, eram poucos os ingredientes da nossa cozinha que não vinham da roça, pois se não eram da roça dos meus avós vinham da roça de algum parente nosso. Além das frutas e legumes, também tinha a criação de animal que nos dava os laticínios e as carnes.

Tudo se aproveitava, quase nada era desperdiçado. Cresci na base do pão de queijo, doce de leite e todos os doces de compotas caseiros mineiros, todos feitos em tacho de cobre e fogão à lenha.

E como a família é grande, antigamente nas festas, comemorações e ocasiões especiais, nossos quitutes normalmente eram pastéis, empadas, pães caseiros, pão de queijo e sempre com algum tipo de recheio. Ah, e o tamanho! Nada de coisa mini, eram bem grandinhos, e dava menos trabalho para preparar. Os recheios normalmente eram de carne de porco ou uma mistura com alguma outra carne. Os patês eram muito comuns, sabores um tanto esquecidos e meio renegados hoje em dia.

Esse patê de carnes, como toda receita tradicional de família, era e é até hoje super disputado. E ai de quem ficasse de fora, e ouse não desse pra todos comerem! Era um Deus nos acuda. Além desse patê, era comum também patê de fígado de galinha caipira, muito raro hoje em dia. Difícil até achar quem ainda crie galinhas caipira pra corte. Ainda restam alguns poucos produtores, na nossa região, mas somente para fornecer ovos.

Na receita, nós aqui de casa, nunca testamos moer acarne no processador, mas com certeza dá diferença na textura da carne.

Receita boa de família é assim, transmite muito afeto, carinho, zelo e cuidado. E, quem não quer ser mimado, ainda mais pela boca né!? Ninguém quer ficar de fora.

OBS: o nome e o roux ficam por conta da neta. Antes, minha avó usava apenas amido de milho para engrossar caldos, mas com certeza a manteiga caseira com a farinha deram um sabor mais gostoso.

Carol Sá